quinta-feira, 10 de maio de 2018

CANCRO DA MAMA - O CABELO NOVO E O NOVO VISUAL



26 de Dezembro / 2017



Quase cinco meses passaram depois que acabei a Quimioterapia. Faz oito meses que o cabelo teve que ser rapado já que caía às mãos cheias como resultado da morte das células dos folículos capilares. Estas, por se tratarem de células jovens, tal como as células cancerígenas, são também elas destruídas com o uso dos fármacos utilizados no tratamento deste tipo de cancro. Foi em Maio, sobretudo devido à acção do Docetaxel, que ocorreu a queda do meu cabelo após a primeira sessão de Quimioterapia.

O primeiro impacto é terrível, mas com o uso dos turbantes por casa e da cabeleira pela rua, torna-se tudo mais fácil. Talvez que pessoas mais perspicazes se possam aperceber da utilização da cabeleira. Mas, na generalidade dos casos, passa despercebida. No entanto, lembro-me da primeira vez que usei uma cabeleira na rua e desesperei. Era um Sábado. Tinha que ir fazer compras ao supermercado. A sensação daquele corpo estranho na minha cabeça era incómoda. No meu pouco à vontade, sentia-me como se estivesse a ser observada por toda a gente... gente que certamente ia concentrada na sua vida e nos seus próprios problemas e que teria mais em que pensar do que reparar em mim e no uso da minha cabeleira... Mas foi muito frustrante. Foi a primeira vez que chorei, desde que tudo começou. O nervosismo de ir fazendo as compras com os cabelos a caírem para os olhos, o "stress" de ter que estar a horas para o almoço, fizeram-me rebentar em lágrimas ao chegar a casa. Foi então que pensei: "Tenho sorte em poder ter uma cabeleira para ocultar de olhares indiscretos a minha cabeça agora calva... Com tanto apoio que tenho recebido, não tenho o direito de chorar". E as lágrimas secaram-se para não mais voltarem. No fundo, no fundo, é tudo uma questão de adaptação. E sem dúvida será... mas, por ridículo que possa parecer, foi uma questão de estética que me fez chorar uma única vez, ao longo de todo o processo de detecção e tratamento da minha doença...  

Durante oito meses usei turbantes ou então uma cabeleira quando saía de casa. Não era desconfortável, suporta-se bem... Sentimo-nos mais à vontade, femininas e naturais. Mas, quando o nosso cabelo começa a despontar de novo cobrindo o couro cabeludo com uma pelagem densa, fina e macia, a vontade de assumirmos o cabelo e a nossa cara como estão, começa a fervilhar. É assim que, hoje, ando com a cabeça descoberta e os meus novos cabelinhos à vista de toda a gente. Se fosse mais nova e tivesse uma cara bonita, até que nem ficaria mal, antes pelo contrário, podia até ficar interessante. Assim, tenho que me contentar em ficar como sou e, já que estamos no Inverno, utilizar golas altas que compõem o pescoço ainda destapado e dão mais volume aos lados da cabeça emoldurando o rosto.

Quando terei o meu cabelo de volta como estava, se é que alguma vez vai voltar a ser como era, não sei. Mas é tudo uma  questão de aceitação e paciência. Podemos acompanhar o seu crescimento com alguma atenção e até curiosidade. Por exemplo, pude constactar que ele não cresce por igual nas várias zonas do couro cabeludo... que o cabelo surgiu mais branquinho e ondulado do que era. Procurar interiorizar que é assim que tem que ser, tirando o melhor partido de como estamos, evita a angústia da nossa vaidade um pouco abalada.

__ "Está(s) tão "gira"..."; __"Parece(s) mais nova"... Dizem-nos. Até que ponto é sincero não o sabemos, mas ajuda a alimentar o nosso "ego" e a sentirmo-nos mais satisfeitas com o nosso novo visual que sabemos ser temporário.

Neste momento, é como se tudo por que passámos não fosse mais do que um sonho. E esta é a sugestão que deixo a quem passe por uma situação idêntica: Vontade e coragem de enfrentar todas as alterações por que tem que passar o nosso corpo e interiorizar que, a única forma de aceitar e continuar em frente, é não nos importarmos com o que os outros possam pensar, porque certamente estarão mais preocupados com os seus próprios problemas do que com o nosso visual. Visual que, para quem nos olha com olhos de amigos, até que poderá estar "giro", e que devemos assumir como prova de termos ultrapassado um cancro que, agora, faz parte do passado.


Fernanda Serrano (NET)


Carla Andrino (NET)


Segundo Fernanda Serrano o descreve no seu livro, esta atriz enfrentou com alguma dificuldade as transformações do seu corpo, mas continuou uma mulher linda depois que o seu cabelo foi crescendo. Carla Andrino foi outro exemplo dentro dos casos conhecidos. Mas quantos números incontáveis de outras mulheres não terão passado pelo mesmo. É um pequeno preço a pagar pelo grande bem que é a recuperação da doença. E, está bem de ver que, a alegria de vermos recuperar o nosso próprio cabelo, não tem preço... 




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