Durante
todo este tempo me senti a rapariga dos brincos. Os meus brincos de pérolas
estiveram sempre nas minhas orelhas. Não os levei no dia do meu casamento,
porque dizem que brincos de pérola em dia de casamento dão azar. Mas, agora,
estou a usá-los durante todo este período como um amuleto. Foi o meu pai quem
mos deu há tantos anos que não faço contas. Chegou a altura de me darem sorte.
Os turbantes que usei por casa,
eram azuis como o da "Rapariga do Brinco de Pérola" de Vermeer.
Quadro que tentei reproduzir sob orientação da minha professora de pintura e
que é a única coisa material (das muitas que têm significado para mim) que faço
questão de ter junto a mim até o dia do juízo final.
No fundo, quis o destino que
aquele fosse em parte o retrato da sua autora o quadro da "Minha
Menina" em que a única coisa que fiz sem ajuda da minha mestra foi a parte do
turbante feito a espátula e o toque de brilho no brinco de pérola. Sim, durante
todo este tempo em que estive sem cabelo o quadro era um reflexo de mim e eu o
espelho dele.
Agora, os cabelos vão crescendo e
aos poucos irei libertar-me de uma imagem que foi a minha com os brincos de pérolas e o turbante na cabeça, para passar de novo a ser a Malay que utiliza os
brincos de pérolas sem turbante em dia de festa, ainda que esse dia seja qualquer dia pelo facto de se festejar a vida e a dádiva desse mesmo dia.
Sem comentários:
Enviar um comentário
PARTILHAR É UMA FORMA DE PREVENIR: